É muito difícil encontrar um parâmetro do que possa ser
considerado normal ou não. Para alguns, a normalidade está atrelada a
comportamentos padronizados socialmente; para outros, tem a ver com preceitos
religiosos, e por aí vai.
Fato é que, muitas vezes, confunde-se normalidade com
calmaria, quietude e obediência, sendo que uma coisa não necessariamente
depende da outra.
Quantas vezes nós mesmos não temos uma impressão errada
sobre alguém que se veste de uma forma totalmente peculiar, ou possui um corte
de cabelo diferente; alguém que, aparentemente, foge ao que é considerado
normal? Ou sobre alguém que abraça as causas em que acredita de uma maneira
efusiva, brigando por elas sempre que necessário, até mesmo empunhando cartazes
e saindo às ruas?
Pois é, a aparência não tem nada a ver com a essência
humana, mas parece ser tão difícil entender isso.
Difícil porque o mundo de hoje se baseia naquilo que se vê,
naquilo que se ostenta, nas grifes que se vestem, no poder de compra, no tanto
que se consome. Com isso, torna-se cada vez mais difícil enxergar o essencial
de cada um, aquilo que a pessoa realmente possui dentro de si e consegue viver,
praticar, sem machucar ninguém pelo caminho.
É o que fazemos que importa, não o que falamos e aparentamos
por aí.
E, nos núcleos familiares, não raro se tomam como ovelhas
negras justamente as pessoas que contestam, que ousam, que enfrentam o que,
embora já esteja estabelecido há muito tempo por várias gerações, trata-se de
algo que precisa ser mudado, oxigenado, a fim de se quebrar uma falsa base da
zona de conforto que se perpetua há anos. Porque ninguém é obrigado a manter um
casamento fracassado ou a se vestir seguindo a moda, somente porque sempre foi
assim entre os familiares.
Os ousados é que promovem avanços que abrem novos caminhos a
muita gente sem coragem.
Portanto, é preciso muita cautela ao julgar alguém que já
foi julgado, pelas pessoas ou pelos familiares, como sendo uma ovelha negra,
visto que somente a convivência e o tempo é que mostram realmente o que cada um
é de fato.
Muitas vezes, apenas se trata de alguém que não se sujeitou
a regras e comportamentos ditos como normais, sabe-se lá por quem ou por quê, e
resolveu viver de acordo com as batidas do próprio coração.
Trata-se, enfim, de alguém que não se permitiu ser aceito
pelos outros em troca da própria felicidade.
Prof. Marcel Camargo – Fãs da Psicanálise
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