A Academia Teixeirense de Letras (ATL) no dia 14/03/19, no Plenário da Câmara Municipal de Teixeira de Freitas, realiza a sua primeira sessão solene deste ano. Nesse momento, em comemoração ao dia de nascimento do poeta castro Alves, ocorreu a posse dos novos membros efetivos da ATL, e a entrega do Prêmio Castro Alves de Literatura 2019. Nesse, as categorias avaliadas foram poema e crônica.
"O texto da lagoa do Derba, é de um olhar sensível sobre o concreto da cidade. Irreverente e realístico! " Afirma Mayara Mutti.
Dispomos aqui o texto na integra.
Lagoa do DERBA
Vou te contar um uma história, ela aconteceu em Jequié na Bahia, senhora do engenho de minha alma. É sobre algo e onde. É bem verdade, essa cidade é difícil de ver de longe, pois fica velada, abraçada pela ciranda de montanhas que a cerca. Mas pra quem vem do litoral, passando por Ipiaú já vai conhecer uma pontinha dela que se estende para fora do cerco, cobrindo o então Vale El D’ourado, vulgo Morro dos Urubus. Logo ali a diante ao sopé da ladeira do Clube dos Maçons, ladeando o cemitério antigo está a Lagoa do DERBA, nome que pegou emprestado da antiga usina de asfalto, hoje extinta, que ficava as suas margens. Eis o palanque da narrativa.
Esse terreno privado, nunca cercado, mutante diante da valsa oscilante das intempéries do clima, passa alagado o período discretamente invernoso do ano. As mães mais cuidadosas admoestavam seus filhos a evitar passar pela orla da lagoa devido os muitos perigos. Os mais velhos fazem questão de lembrar que, no cemitério, em passado próximo, para se vagar carneiras para os novos inquilinos “permanentes”, os ossos secos dos mais antigos, desses mortos a muito não visitados, eram levados para tomar “baínho” e se refrescar à luz do luar. Junto a estes também eram deitados corpos frescos, resultados de desavenças, ciúmes ou crimes. Ambos, como em um casamento arranjado, afundavam juntos, em sua lama de mel derradeira.
Mas, na estiagem mingua-se a lagoa e nesse lento adeus, deixa em possas rasas, anfíbios mil em seus vários estágios, e peixes pulmonados com seu característico olhar de surpresa. Todos ali, na bizarra vitrine das garças que com seus hashis, escolhem a dedo as peças que mais lhe apetecem. Vagam também, pisando em ovos, os socós e seriemas, três dos animais a fartarem-se na seca. As aguas, mornas pelo sol, dissipam-se na velocidade das nuvens e não há aves que sejam suficientes para recolherem na gaiola de seus ventres todos aqueles bichos húmidos. Parece até que aqueles seres reluzentes derretem ao sol, se dissolvendo em seu próprio muco, transformando-se em um fino pântano de podridão, cujo odor invasivo atinge até meados do Colégio Polivalente cobrindo a tudo e a todos como um grosso cobertor flamejando à mercê de ventos cálidos. Em poucos dias (mais que suficientes), o sol se encarrega de mumificar os corpinhos que os vermes sobejaram. Pisando bem esses fantoches pálidos e crocantes, o fundo da lagoa, raso e plano, é promovido a campinho para o bába dos carinhas. Esse futebol feito nas cochas, acontece ali, num vão estranho. Entre duas traves de paus tortos fincados com força e careta, um menino pardo de cabelo empoeirado anda como equilibrista, medindo a distância com rigor. A divisão é pratica: um time com camisa contra o outro, sem camisa. O time mais fraco pode ter um a mais. A partida se inicia brusca. Entre um gol e outro, a falta é certa. Grandes e pequenos, todos “chegam quebrano” mas ninguém pede tempo. Manca-se um passo ou dois e logo apruma-se a marcha. Como um cachorro, aperta os olhos, inclina a cabeça para frente e espera a sua chance de “picálaporra”. Haverá ombro ralado e boca pocada. Ninguém liga. Aquele jogo é diversão e escola para a vida.
Na Lagoa do DERBA, por cima de ossos sem nome, a vida insiste, se choca e ferve nervosamente nos corpos desses meninos feitos de espinho, barro e cuspe.
Rômulo Rangel, nascido em Ipiaú, criado na zona rural de Aiquara, encontrou-se consigo em Jequié, "terra de todos nós". É enfermeiro e atualmente reside em Teixeira de Freitas. Desde a adolescência escreve rabiscos e pensamentos em um papel qualquer e lança por aí. As vezes se arrisca publicando.
Parabéns .. muito bacana !!!👏👏👏👏
ResponderExcluir👏👏👏👏👏 Parabéns!!
ResponderExcluirExcelente profissional e um ser humano do bem...
Parabéns Rômulo 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirParabéns. Queremos mais histórias com uma percepção humana como essa.
ResponderExcluirParabens meu colega e amigo, Vc tem um grande potencial.
ResponderExcluirUm forte Abraço, Vc arrasou
Muito bonita!!! Parabéns Rômulo.
ResponderExcluirImpressionante. Ao lermos o texto " A lagoa do Derba" temos a sensação de estarmos inseridos nas cenas que o mesmo retrata. Parabéns, Rômulo Rangel. Excelente trabalho.
ResponderExcluirPerfeita descrição! Parabéns
ResponderExcluirDescrição Perfeita! Parabéns!
ResponderExcluirDescrição perfeita! Parabéns!
ResponderExcluir�� Parabéns!! Você como sempre um exemplo de filho, de profissional e um ser humano incrível. amamos você.
ResponderExcluirParabéns meu amigo!! Vc eh uma pessoa diferenciada!! Que Deus continue abençoando esses tantos dons que possui!!
ResponderExcluirParabéns!você escreveu de uma forma incrível.
ResponderExcluirParabéns Rômulo! Te desejo muito sucesso, você merece!
ResponderExcluirParabéns Primo, você merece!!!!
ResponderExcluirPuxa vida! Me fez lembrar das pernadas que dava nos campinhos arranjados em quintais e perto de uma antiga lagoa do extinto DNER (atual DNIT), aonde brincávamos a valer e saía cada "tunga", de vez em quando,que dava correria para todo lado. Infância que não volta jamais! Até porque o progresso soterrou a lagoa às margens da BR 101, igualzinho fazem no Pitagoras e Shopping Pátio Mix no presente. Que pena! Lembrar, mesmo com os entrecortes, é bacana mesmo Rômulo.
ResponderExcluirJoão Luiz Monti
joaomonti@yahoo.com.br
Parabéns, Rômulo! Orgulho de vc! Excelente!!!
ResponderExcluirParabéns 👏❤
ResponderExcluirParabéns meu amigo um abraço! Sucesso !
ResponderExcluirParabéns meu sobrinho que eu tanto amo e adimiro👏🏻👏🏻👏🏻 Um beijo grande no seu ❤️
ResponderExcluirParabéns Romulo! Sucesso meu amigo, profissionalismo vc tem de sobra.
ResponderExcluirParabens romulo seu texto é maravilhoso. Valeu cara.
ResponderExcluirParabéns Romulo! Sucesso meu amigo, profissionalismo vc tem de sobra.
ResponderExcluirParabéns Rômulo você é o exemplo de pessoa que faz a diferença e mostra que possível fazer um mundo melhor
ResponderExcluirParabéns romulo! Que texto incrível e a pessoa que escreveu tbm! Muito sucesso sempre.
ResponderExcluirEncantador e de muita riqueza de palavras e observações! Muito orgulhosa de você meu colega! Muito sucesso sempre!
ResponderExcluirParabéns pela excelente crônica meu querido! A riqueza de detalhes me fez relembrar a época em que morei próximo aquela lagoa. Fiquei encantada com seu talento! Sucessos!!
ResponderExcluirCrônica maravilhosa.
ResponderExcluirTransmite, de forma ímpar, a atmosfera que transbordava daquele lugar místico.
Parabéns, Rômulo